Força TURBO!! ATP-CP: a sua maior potência!
- Pedro Rodrigues
- Jun 6, 2018
- 6 min read
Updated: Apr 1, 2020
Como comentado no post de vias metabólicas , dentre as 3 vias metabólicas que temos, a via de utilização de Creatina-fosfato como fonte de energia possui a maior velocidade de liberação de energia, assim como a maior capacidade de empregar força e potência a um movimento.
Ao meu ver, é imprescindível que todo e qualquer atleta deva ter conhecimento sobre como as vias de produção de energia conversam entre si para possibilitar o bom desempenho do mesmo no momento de uma competição ou até mesmo de um treino. Se você é atleta e também concorda com isso, este texto será fundamental para você melhorar sua estratégia de prova, seja em corrida, seja em ciclismo, remo, lutas ou qualquer outro esporte.
O objetivo das informações que você vai ler abaixo é deixar bem claro para você como se dá o funcionamento desta via, quais fatores influenciam na eficiência da mesma e como saber os momentos certos de utilizar o que eu gosto de chamar de Força TURBO.
Este será um texto um pouco mais técnico, principalmente no seu início. Se você já me conhece há um tempo, sabe que não gosto de utilizar linguagens muito técnicas, mas eu tenho certeza que nossa conclusão ao final do texto terá uma construção muito mais aplicável na sua rotina de treinos caso você verdadeiramente entenda os conceitos que abordaremos aqui.
Então vamos nessa?
ENERGIA INSTANTÂNEA!!
Sim, este é o nome que muitos dão para a energia produzida por esta via. E não é atoa. Ao longo de todo o processo evolutivo, a capacidade de lidar com situações de perigo repentinas foi um grande avanço na nossa espécie. Ao avistar o perigo, era fundamental que conseguíssemos empregar uma grande força e/ou velocidade para sobrevivermos, seja fugindo ou lutando. Isso apenas era possível para aqueles que possuíam a via energética ATP-CP (ou fosfagênica) muito eficiente.
O fornecimento de energia instantâneo ocorre somente pelo fato de que essa é uma via que depende apenas de uma única reação química:
ADP + CrPi = ATP + Cr
(Momento nerd: nesta reação, o composto Adenosina Difosfato (ADP) reage com Creatina-fosfato (CrPi). Se antes o ADP possuia apenas 2 fosfatos, ao sequestrar o grupo fosfato da creatina, ele passa a ter 3 unidades, se transformando em Adenosina Trifosfato (ATP). A molécula de Creatina que sobra receberá outro fosfato durante o processo de reestabelecimento dos estoques de CrPi. Tudo isso ocorre no interior das nossas células, principalmente as musculares, onde os estoques de CrPi são abundantes)
Nãaao, você não precisa decorar, essa reação. O que você precisa entender nela é que o ATP produzido por ela é a nossa MOEDA DE ENERGIA, ou seja, é necessário fabricar ATP para que depois, no seu processo de quebra, a energia seja fornecida para sua atividade.
Sendo assim, o objetivo dessa reação é justamente fabricar ATP através de uma única reação, que tem a creatina como protagonista. Essa reação acontece quase que de maneira instantânea, fazendo com que uma enorme quantidade de energia seja disponibilizada no músculo de uma só vez.
A notícia ruim disso tudo é que os nossos estoques de creatina são incrivelmente pequenos, mesmo nos músculos. Dessa forma, em apenas 10 a 15 segundos de exercícios máximos nós já não temos mais quantidades suficientes deste substrato para continuar executando aquela atividade em uma intensidade tão grande, sendo obrigados a reduzir o ritmo e passar a utilizar a via glicolítica anaeróbica como principal fornecedora de energia.
"RECUPERA E VAI DE NOVO..."
A notícia boa é que, da mesma forma que nosso estoque acaba muito rápido, nós temos a incrível capacidade de ressintetizá-lo em um tempo relativamente curto. Já é confirmado pela ciência que bastam 30 segundos de repouso para que indivíduos saudáveis recuperem até 70% dos estoques iniciais de Creatino-fosfato após terem esgotado o mesmo através do exercício. Os outros 30% já podem demorar até 7 minutos para estarem completados a depender das condições do atleta.
É exatamente por este motivo que podemos moldar a estratégia de prova de um atleta de acordo com a sua capacidade de recuperação desses estoques. Fatores genéticos e/ou nível de treinamento e alimentação são determinantes para que, tanto a durabilidade, quanto a quantidade de energia e a velocidade de recuperação da mesma sejam superiores em alguns indivíduos em detrimento de outros.
Agora que você já sabe disso, fica fácil entender o porquê de o título deste texto ser "Força TURBO". É justamente através desta via que é possível realizar os famosos ataques em pelotões de ciclismo, dar um sprint final em uma regata de remo ou ganhar uma maratona por centésimos de segundo.
Em situações como essas, dar um sprint na hora errada pode comprometer o resultado de uma prova. O contrário também é verdadeiro. Quantos atletas já foram campeões realizando uma ultrapassagem nos últimos instantes de prova? Eles souberam usar o TURBO na hora perfeita e levaram a medalha por isso.
Legal Pedro, entendi. Mas então, quais os fatores que determinam a qualidade desse meu TURBO?
A grosso modo, nós podemos desenvolver 3 tipos de fibras musculares:
- Fibras tipo I
- Fibras tipo IIA
- Fibras tipo IIB
Caso queira saber mais sobre os tipos de fibras musculares, você pode acessar um texto que eu fiz falando apenas sobre isso.
Mas em relação à via ATP-CP (energia instantânea), o que você precisa saber é que quanto maior a prevalência de fibras do tipo IIB o indivíduo apresentar, maior a capacidade dele de utilização desta via. Isso porque as fibras do tipo IIB possuem uma velocidade de contração muito rápida. São fibras muito presentes em esportes de explosão, como provas curtas de atletismo, natação, também é muito presente em ateltas do Levantamento de Peso Olímpico (LPO), no Halterofilismo, nos Saltos Ornamentais, Ginástica Artística e mais todo e qualquer esporte que apresente movimentos em alta intensidade e curtíssima duração.
Os principais fatores que determinarão essa prevalência deste tipo de fibras musculares são o fator genético e o estímulo empregado naquela musculatura através do treinamento.
O fator genético talvez seja o mais importante deles quando falamos em esporte de altíssimo rendimento (nível profissional). Quase nunca (e eu posso arriscar dizer que NUNCA) você verá um atleta de nível olímpico em uma das modalidades citadas acima que não foi contemplado geneticamente para características musculares que o levaram até lá.
Agora verdade seja dita. Você NUNCA vai encontrar alguém que está ali apenas por fatores genéticos. O melhor exemplo que nós temos é o grande campeão Michael Phelps, que despertou o interesse do seu técnico, o gigante Bob Bowman, quando tinha apenas 11 anos de idade. Desde então, Phelps treinou todos os dias até chegar ao primeiro ouro olímpico de sua vida, com 19 anos de idade.
Dessa forma, treinos de saltos, potência, sprints máximos e curtíssimos, mudanças bruscas no padrão de movimento... Todos estes tipos de treino podem auxiliar na melhora da via ATP-CP.
Além do treino...
Existe um suplemento alimentar que está entre os mais (ou é o mais) estudados e comprovados quanto à eficácia. Você já deve estar imaginando qual é o suplemento do qual eu estou falando. Esse mesmo, a CREATINA!!
Como nós vimos lá em cima, é a creatina que protagoniza a produção de ATP (nossa moeda de energia) através da via ATP-CP. Sendo assim, quanto maior o nosso estoque de creatina, maior a nossa eficiência em sprints máximos ou movimentos ultra-rápidos.
A creatina está presente principalmente em carne vermelha e carnes de animais marinhos.
Apesar da presença bundante na natureza, a suplementação de creatina pode aumentar em até 30% os nossos estoques basais de creatina no músculo. Caso o indivíduo seja vegetariano, esse valor pode chegar à 60% a mais do que ele tinha antes de realizar a suplementação. Incrível né?
Caso queria saber mais sobre a suplementação de creatina, clique aqui
Em resumo:
- A via da força TURBO está presente em todos nós. Uns com mais eficiência do que outros;
- Devido à rapidez em que a energia precisa ser disponibilizada, esta é uma via em que não há necessidade de presença de oxigênio para que ela ocorra;
- A creatina é a grande protagonista deste processo de fabricação de energia;
- É possível ampliar a capacidade de utilização desta via através de treinamentos específicos e também da alimentação. Para isso, os estímulos aplicados na dieta devem estar casados com os estímulos empregados no treinamento para que a velocidade de evolução seja aumentada;
- É fundamental que o atleta identifique através de avaliações junto ao seu preparador físico ou treinador qual a eficiência desta via em seu corpo a fim de moldar a estratégia de treinos e provas para as suas características individuais;
- A ciência está aqui para elucidar alguns pontos importantes no seu desempenho, mas o melhor professor que você poderá ter sobre o que é bom ou não para você é o seu corpo. Aprenda a escutar os sinais que ele te dá e aprenda com isso.
Bom, então eu fico por aqui.
Agradeço a sua atenção até agora.
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Até a próxima!!

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